Nas últimas semanas o mundo, em especial a América do Sul, tem observado os desenvolvimentos na fronteira entre Venezuela e Guiana. O país chefiado por Nicolás Maduro – que ocupa o cargo de presidente há mais de 10 anos – realizou ontem (03) um plebiscito, onde a população escolheria a anexação da região de Essequibo, que compreende cerca de 70% do território guianense.
O resultado da votação foi divulgado ainda ontem e, sob muitas dúvidas, 95,9% da população foi favorável à criação de uma nova província venezuelana, a chamada Guyana Esequiba. O território é reclamado pela Venezuela desde 1841, mas o Essequibo se tornou ainda mais importante com a descoberta de enormes reservas de petróleo na região. A possibilidade de uma operação militar ou até mesmo uma guerra entre Guiana e Venezuela trouxe diversos debates em várias plataformas, especialmente em torno das capacidades das Forças Armadas da Venezuela.
Nesta matéria, veremos quantas e quais aeronaves de combate são utilizadas pela Força Aérea da Venezuela, bem como o Exército Venezuelano também.
General Dynamics F-16 Fighting Falcon
Em outros tempos, Estados Unidos e Venezuela tinham uma relação muito mais amistosa. Tão amistosa que em 1982, a Força Aérea Venezuelana (Aviación Militar Bolivariana – AMB) se tornou o primeiro país latino-americano a adquirir o F-16. Pelo programa Peace Delta o país comprou 18 F-16A e 6 F-16B de dois assentos.
Na época eram os caças mais avançados do continente, superando por muito as demais forças aéreas sul-americanas. No entanto, os F-16 eram da versão Block 15 OCU e os embargos que vieram mais tarde impediram que a Venezuela realizasse grandes upgrades nos jatos, como realizado por outros operadores do Viper.
Hoje, restam 15 F-16 em atividade, operados pelo Grupo Aéreo de Caza N.º 16 a partir da Base Aérea de El Libertador.
Sukhoi Su-30 MKV Flanker-C
Uma das principais variantes do Su-27 russo, o Su-30MKV chegou às fileiras da AMB em 2006, quando o então presidente Hugo Chávez, já muito mais próximo da Rússia, assinou a compra de 24 aeronaves. Com a introdução do Su-30 – uma aeronave que gera discussões polêmicas até hoje – a AMB ficou novamente entre a vanguarda da aviação de combate no continente.
Normalmente reconhecido por características como a alta velocidade, longo alcance e grande capacidade de carga útil (bombas, mísseis, etc.), também se fala muito sobre o suporte da Rússia aos Su-30 da Venezuela: alguns afirmam que pelo menos parte da frota ficou no chão por falta de manutenção, outros duvidam. É difícil saber as reais condições dos Flankers de Caracas, muito por conta das condições políticas e sociais do país.
De qualquer forma, dos 24 aviões adquiridos, três foram perdidos em acidentes, restando 21 caças Su-30MKV em operação. Assim como os F-16, os Su-30 também tem a base de El Libertador como sede, onde são mantidos e voados pelo Grupo Aéreo de Caza N.º 11.
Hongdu K-8 Karakorum
Para substituir sua antiga frota de caças VF-5 Freedom Fighter e turboélices OV-10 Bronco, a Venezuela comprou da China 26 jatos de treinamento K-8W Karakorum em dois lotes. Embora sejam originalmente mais voltados para instrução de voo, os K-8 também podem receber armamento para ataque ao solo.
Os pequenos jatos foram distribuídos entre unidades do Grupo Aéreo de Operaciones Especiales N.º 15, da Base Aérea Rafael Urdaneta, e do Grupo Aéreo de Caza N.º 12, da Base Aérea Vicente Landaeta Gil, onde são usados em missões de suporte aéreo e contra o tráfico de drogas.
Desde o início da operação em 2009, os K-8 chineses já acumularam uma série de acidentes, o último dos quais foi registrado em junho de 2022, deixando dois pilotos feridos. Hoje a Venezuela conta com 22 destes treinadores armados.
Mil Mi-35
O Exército Bolivariano possui diversos helicópteros em sua frota de aviação, mas a “menina dos olhos” é o Mil Mi-35M Hind-F russo. Ao todo, 10 destes helicópteros de ataque foram adquiridos em 2005 num contrato que também incluía helicópteros Mi-17 e Mi-26.
Entregues entre 2006 e 2008, os Hind da Venezuela são da versão Mi-35M2 Caribe, com melhorias nos sistemas d’armas e autodefesa, bem como atualizações realizadas localmente em 2017. Além do canhão de 23 mm instalado no nariz, os Mi-35 podem usar foguetes não guiados e mísseis antitanque 9M120 Ataka-V.
Dos 10 helicópteros comprados, nove ainda estão em operação. Um Mi-35 foi perdido em um acidente fatal em fevereiro de 2019.
Outras aeronaves
Embora os aviões e helicópteros mencionados acima sejam os principais vetores da aviação de combate da Venezuela, a Fuerza Armada Nacional Bolivariana (FANB) conta com várias outras aeronaves na força aérea, marinha e exército do país.
A AMB possui um Boeing 707 modificado para ser um avião-tanque (KC-707), embora não se saiba exatamente as condições deste veterano jato.
Quando se fala em transporte tático pesado, a Venezuela conta com três C-130H Hércules e oito Shaanxi Y-8, uma versão chinesa do Antonov AN-12 soviético. Os dois modelos são usados pelo Grupo Aéreo de Transporte N.º 6, outra unidade de El Libertador.
A frota de transporte é complementada por outros aviões menores como o Shorts 360, Cessna Caravan, Dronier 228 e o popular Beechcraft King Air.
No caso dos helicópteros, a variedade também é grande. Os maiores são três enormes Mi-26 Halo, maior helicóptero produzido no mundo. Mas assim como o 707 (e outras tantas aeronaves da Venezuela), não é possível saber as reais condições desta frota. Os modelos mais numerosos são os russos Mi-17, os norte-americanos Bell 412 e o francês Aerospatiale (atual Airbus) AS532 Cougar.
Por outro lado, não se pode ignorar outro destaque da FANB: seus mísseis antiaéreos. A Venezuela conta com uma série de sistemas de defesa aérea de curto, médio e longo alcance. O mais imponente é o S-300VM, capaz de engajar aeronaves a cerca de 250 km com seus mísseis 9M82M. O exército possui três baterias desse sistema.
O Buk M2 de médio alcance complementa os S-300, também com três baterias. O mais antigo S125 é ainda mais numero, com cerca de 20 baterias em uso. No entanto, os mísseis de ombro como Igla e RBS-70 estão bem mais presentes, embora de curto alcance.