Por Joaquim Haickel
Muita gente tem pedido que eu escreva alguma coisa sobre os cenários políticos que poderemos ter em nosso estado nos próximos anos, mas venho sistematicamente evitando fazer isso por diversos motivos, um deles é pelo fato de que algumas pessoas de forma alguma aceitam a opinião das outras, além do que alguns daqueles indivíduos que detêm o poder não admitem que se cogite um cenário que de alguma forma lhe seja desfavorável, levam para o lado pessoal aquilo que é tão somente uma análise política. Pior ainda ocorre em relação a alguns asseclas desses poderosos que no afã de bajular o chefe, o cega e ensurdece para a realidade, muitas vezes simples e cristalina, mas é importante que se ressalte que esse tipo de reação não é de hoje, ela é antiga e histórica, registrada em obras de gênios inquestionáveis como Maquiavel.
Como o ano está findando, e alguns acontecimentos parecem estar se precipitando, resolvi ceder às pressões e escrever algumas mal traçadas linhas sobre dois dos caminhos que eu imagino possíveis de serem trilhados pelos políticos do Maranhão nos próximos anos.
Para isso temos obrigatoriamente que dirimir duas questões fundamentais, sem as quais qualquer cenário não será possível ser construído no Maranhão.
A primeira diz respeito ao fato de sabermos se Flávio Dino será ministro do STF. A segunda é sobre a real situação do grupo hoje comandado pelo governador Carlos Brandão, em relação ao mesmo Flavio Dino, pois é indispensável que saibamos se Brandão e Dino estão rompidos política e fraternalmente. Se eles comungam das mesmas ideias políticas e administrativas para o nosso Estado. Se seus planos para o futuro coincidem ou são minimamente antagônicos, ao ponto de fazer com que o governador precise escolher entre permanecer no governo até o final de seu mandato ou se desincompatibilizar para concorrer a uma vaga de senador em 2026.
Sem essas respostas pouco ou nada pode ser projetado com um mínimo de clareza, isenção e honestidade. O máximo que se pode fazer é sobrevoar os caminhos possíveis com cada uma das respostas dadas a essas perguntas.
Se Flávio Dino for alçado ao STF, seu poder cresce por um lado, mas diminui por outro. Seu poder pessoal, sua influência no panorama jurídico brasileiro irá crescer enormemente, até porque poucas pessoas no Brasil são mais preparadas para ocupar este cargo que Flávio. No entanto seu poder político, principalmente no ponto de vista eleitoral, irá sofrer um grande revés.
No STF Flávio não terá como manter o comando da política do Maranhão, que a partir dali estará ainda mais restrita ao grupo comandado por Brandão, que terá mais liberdade para decidir o que, como e quando tomar livremente decisões políticas que definam seu futuro enquanto político.
A primeira possibilidade é Brandão se entender com Flávio, saindo do governo para ser candidato a senador, indicando o candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Felipe Camarão, e aí a Pax Romana estaria, em tese, sacramentada em seu grupo, mas o controle político do grupo sairia das mãos de Brandão e voltaria para as de Flávio, através daquele que será então o governador do Estado, Felipe Camarão.
Em minha modesta opinião, esse é o cenário mais cômodo e plausível, pois não requer um grande trabalho arquitetônico, só uma boa quantidade de fé, estômagos resistentes e fígados amistosos.
Uma outra opção que vislumbro é quase impossível de ser implementada, tendo em vista que os personagens principais dela são muito complicados de serem lidos e muitas vezes quase impossíveis de serem auscultados.
Neste cenário seria necessário que Carlos Brandão e Eduardo Braide firmassem um acordo que envolvesse grande quantidade de confiança mútua entre ambos, o que pelo que sei é praticamente impossível, tendo em vista o temperamento desconfiado deles dois e seus históricos pessoais e políticos de serem refratários ao hábito de ouvir.
Nesse acordo, Brandão apoiaria Braide e indicaria um candidato de sua restrita confiança a vice-prefeito deste para a eleição de 2024, em São Luís. Além disso Brandão permaneceria no governo até o final de seu mandato, apoiaria Braide para sua sucessão como governador, indicando alguém de sua confiança para o cargo de vice dele, e ainda teria a possibilidade de, fazendo um acordo com Weverton Rocha e Roseana Sarney, eleger os dois senadores em 2026.
Estes são os dois cenários que penso serem os mais prováveis de serem construídos pelos políticos de nosso estado. Qual será o implementado? Não sei, mas apostaria no primeiro.
Como diria o grande Lister Caldas, “quem viver, verá”.
PS: Antes que algum espertalhão queira citar a celebre frase de Garrincha na Copa de 1958, na Suécia, “vocês já combinaram isso com os russos?”, eu adianto logo que não prevejo fatos, eu analiso possíveis cenários que podem ou não acontecer, sendo isso indispensável para um bom planejamento político.